Kenvin Pinardy |
O copo de
vodca estava sobre a mesa. Enquanto o gelo derretia tornando cada vez mais suave o
gosto do álcool eu via aquele corpo estirado no chão da minha sala. A luz alaranjada que
penetrava pela janela, transpondo a "semi-transparência" da cortina
branca, deixava a fotografia com a luminosidade perfeita – difusa sobre a pele fosca e bronzeada. Assim, apertando um pouco meus olhos para driblar a sutil miopia,
era possível ver cada pelo, cada poro, cada pequena cicatriz ou sinal.
Todos os
sinais de nós.
Olhei através
do copo, como se as gotas que escorriam pela borda percorressem as curvas do
ser que estava aos meus pés – só assim ele ficava aos meus pés. Meus dedos
escorregavam suavemente em torno da pedra de gelo, mas ela parecia fugir do meu
toque; nós duas, barradas pelo limite do vidro circular.
Meu reflexo no
espelho; a nudez sobre a cadeira revela também um rosto rosado. Me vejo te
olhando, não me reconheço.
Para onde
foram as lágrimas, que deram espaço para essa cara marota, pretenciosa,
sem-vergonha e audaciosa?
Teu transe
passa a me incomodar, inquietar. Tua inércia me instiga. Essa menina quer fazer
arte, te importunar, atiçar, provocar.
Com um leve
esforço, as pontas dos meus dedos dos pés te encostam, quase sem querer tocar.
Te vejo arrepiar e esse teu corpo, antes imóvel se mexe vagarosamente arrastando a carne quente, tesa e úmida em minha direção, enquanto teus dedos envolvem meus delgados tornozelos.
Visão sublime
dos teus cabelos entre os meus joelhos.(…)
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Obrigada! Passo a régua e fecho a conta por hoje?