quarta-feira, agosto 08, 2012

Incompleto

Kenvin Pinardy
O copo de vodca estava sobre a mesa. Enquanto o gelo derretia tornando cada vez mais suave o gosto do álcool eu via aquele corpo estirado no chão da minha sala. A luz alaranjada que penetrava pela janela, transpondo a "semi-transparência" da cortina branca, deixava a fotografia com a luminosidade perfeita – difusa sobre a pele fosca e bronzeada. Assim, apertando um pouco meus olhos para driblar a sutil miopia, era possível ver cada pelo, cada poro, cada pequena cicatriz ou sinal.
Todos os sinais de nós.
Olhei através do copo, como se as gotas que escorriam pela borda percorressem as curvas do ser que estava aos meus pés – só assim ele ficava aos meus pés. Meus dedos escorregavam suavemente em torno da pedra de gelo, mas ela parecia fugir do meu toque; nós duas, barradas pelo limite do vidro circular.
Meu reflexo no espelho; a nudez sobre a cadeira revela também um rosto rosado. Me vejo te olhando, não me reconheço.
Para onde foram as lágrimas, que deram espaço para essa cara marota, pretenciosa, sem-vergonha e audaciosa?
Teu transe passa a me incomodar, inquietar. Tua inércia me instiga. Essa menina quer fazer arte, te importunar, atiçar, provocar.
Com um leve esforço, as pontas dos meus dedos dos pés te encostam, quase sem querer tocar. Te vejo arrepiar e esse teu corpo, antes imóvel se mexe vagarosamente arrastando a carne quente, tesa e úmida em minha direção, enquanto teus dedos envolvem meus delgados tornozelos.
Visão sublime dos teus cabelos entre os meus joelhos.(…)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada! Passo a régua e fecho a conta por hoje?