Pascal Renoux |
A sensação de vazio e desproteção, mesmo em uma cama quente e em meio a tantos lençóis - que se misturam
desordenadamente com pernas e braços - não a impedem de senti-lo, de farejar
seu odor. E ela espreita.
Sente a mão tocar sua coxa, apalpar
suas nádegas, deslizar pelos quadris, contornar a cintura, subir pelos ombros e
enredarem-se bruscamente nos longos fios de cabelo espalhados pelo travesseiro
branco. Uma segunda mão agarra seu maxilar com austeridade impedindo-a de fugir
das mordidas ferozes. Mordidas úmidas, pelos ombros, pescoço - a língua escorregadia percorre e delimita o caminho da próxima dentada - passa pelas
maçãs do rosto, rosadas, quentes... Incorrem pelos lábios penetrando-a. Duas
línguas.
Seus mamilos se enrijecem. As mãos
que antes seguravam bruscamente seu maxilar tomam certa delicadeza e agarram-nos,
pelas pontas - sentem a textura, impedindo que se amoleçam novamente. Sob
movimentos desordenados, cuidadosos, mas constantes - sob doses homeopáticas de
prazer os dedos os mantêm no mesmo estado rijo, quente.
Na falta das lágrimas o suor os une.
O calor faz com que as gotas evaporem dos corpos e inundem o ambiente com um
aroma da mistura de peles, de desejos, de fluídos.
As pernas amolecem - ela já não
domina seu corpo. As pupilas dilatadas não a deixam enxergar - ela já não
precisa.
Ele conhecia seu orgasmo, invadia sem
cerimonia - ela não usava roupas, não se cobria com lençóis, nem com sua
vergonha.
No interior um do outro, as mentiras
estavam cobertas - de costas ele não poderia ver o sorriso, a testosterona no
canto da sua boca.
Invasão desmedida, imperfeições na
soleira da porta.
O ar gélido se instala no seu estômago enquanto todo o calor do corpo se transfere para a ponta dos dedos
dos pés e sobe compulsivamente por entre suas pernas até que...
Num último suspiro o corpo arrepia,
estremece e relaxa.
Os compassos ofegantes da respiração
agora são sua única companhia.
Lençóis sobre os corpos.
IML na portaria.