Victor Bauer |
Os 33 graus daquela tarde quente e cinza de março pareciam
pesar mais a volta para casa no trânsito caótico da cidade de pedra.
Já em casa, esquecendo a longa semana, abro minha cerveja ao som de “It's A Man's,
Man's, Man's World” e vou até a varanda na busca do ar fresco do 23º andar.
Seal embala meus pensamentos e vou olhando a paisagem, as
janelas, os prédios vizinhos. Uma luz que se acende chama minha atenção e a
vejo entrar – sorridente, parecendo cantar. O bom humor e a beleza me atraem. Pasta
e bolsa sobre a mesa, sacolas ao chão. Cabelos ao alto, que num enrolar
fantástico de dedos, sem auxílio de qualquer objeto, fica sensualmente preso com
leves fios soltos nas laterais.
Impetuosamente abre os botões da camisa, a puxa para fora
da saia justa, que molda seu traseiro redondo e cobre as roliças coxas, deixando
com que eu veja seu colo delicado e seus fartos seios abraçados pela lingerie
branca, tocados por uma fina corrente dourada que beija suavemente sua pele
levemente bronzeada e úmida. Quase concomitantemente, como em um uma dança, nos
quais os movimentos precisam estar sincronizados para que tenham um efeito hipnótico, ela sutilmente desce dos saltos altíssimos e estica os dois
braços para cima balançando a cintura e os quadris, hora para um lado, ora para
outro, deliciosamente.
Meu coração acelera e meu rosto enrubesce. A cerveja já não dá conta de refrescar minha
garganta seca. Não pisco os olhos; acompanho cada movimento do apartamento à
frente com a ansiedade dos 42 minutos do segundo tempo da final da
Libertadores, quando vejo meu time no ataque e precisando de apenas um gol para
finalmente soltar o grito de campeão.
Ela vira de costas para a imensa porta de vidro da sala, que
com todas as cortinas abertas me coloca em posição de expectador privilegiado
da obra de arte de que se forma em cada movimento daquele corpo. As mãos, um
pouco desordenadas abrem o zíper prateado da saia ao mesmo tempo em que ela
empina o bumbum e a empurra até os pés, com resistência pela pele úmida de suor
- safada. A calcinha escorrega um pouco acompanhando a saia e me permite
enxergar um pedaço de uma pequena tatuagem ainda indecifrável que molda a
entrada das nádegas luxuriosas e convidativas.
Enquanto caminha e alisa o rosto demonstrando agonia pelo
calor, para em frente à geladeira e a abre. Quando se vira entro em apneia. Por
um instante tenho a sensação de que me vê. Seal já se calou por aqui, a luzes
difusas da minha sala e as cortinas fechadas não permitiram com que ela me percebesse
na varanda, onde estou, mas...
Ela se move, caminha em minha direção, já sem camisa, com
uma long neck na mão que vai à boca sem o menor pudor, como se fosse água para um
sequioso. Meus lábios entreabertos secam, minha mente voa. Minha língua os percorre
a mucosa árida como se buscasse um gole do que vê – um porre daquela boca,
daquela língua.
Ela para em frente à porta que dá na varanda, em minha
direção e alonga o corpo colocando as mãos uma de cada lado do vidro. A cabeça
se abaixa, as costas se inclinam; sorrateiramente ela arqueia uma de suas
sobrancelhas e estende aquelas duas esmeraldas travessas até o outro lado da
rua. Tenho certeza que me vê, mas não mexo um músculo e devolvo o olhar lascivo
e provocativo. Sinto o suor escorrer pela minha fronte, ao mesmo tempo em que
meu coração chega até a minha garganta. Ela sorri linda e despudoradamente,
enquanto coloca a garrafa que segurava sobre a mesa lateral, passa a mão úmida
sobre seus flancos e abre as portas rapidamente, fazendo com que o vento que
sopra em seu rosto desprenda seus cabelos e “This is a man's world, but it wouldn't
be nothing, nothing without, a woman or a girl” ecoe daquele apartamento até os
meus ouvidos.
Pisco meus olhos vagarosamente ao escutar seu mergulho e ao abri-los
vejo-a emergindo rapidamente da piscina, sublime, como uma sereia de pernas.
Vendo as gotas que escorrem pelo corpo nu ouriçado pelo
choque da água gelada e o vento noturno soprando nos pelos dourados, naufrago.