Martin Kippenberger |
Com a devida licença… só dessa vez, dá prá fazer tudo outra vez? Faz!
Te entrega, te rende, te liberta – me liberta. Concede provas da existência do que tua boca proferiu.
Coloca o peso do teu corpo acima do meu, me pressiona, me tira o ar, me sufoca de você. Deixa com que esse líquido salgado e quente transborde dos teus poros e escorra até preencher os espaços dos meus.
Vai, te apaixona! Fica de joelhos, beija meus pés olhando nos meus olhos e sorri maliciosamente prá mim.
Desocupa as mãos. Te ocupa de mim, até ofegar descompassadamente.
Mas se entrar, vai até o fundo. Não me venha com metade, raso, pouco, leve ou morno. Arde: me queima.
Manda uma caixa de rosas colombianas sem espinhos, me indica uma leitura, me liga de madrugada, me serve um copo de vinho tinto, deixa escorrer e aprecia – passa a língua na gota que nasce devagar pelo canto da minha boca.
Acende um cigarro, põe entre os meus dentes lentamente: sente através dos teus dedos o calor da minha longa tragada.
Me olha de novo, insiste.
Senta na minha frente e aprecia o que teus olhos enxergam por entre os meus joelhos delgados. Roça teus pés nas minhas coxas, morde os meus – me deixa com vergonha, sem-vergonha.
Me convida. Te convida – entra. Ousa. Arrisca. Me aguça, me provoca, me instiga – te desafia. Joga todas as cartas na mesa – elas nunca te servirão de nada se continuarem nas tuas mãos.
Faz de novo? Novo. Tudo de - novo?
Passa por essa brecha que ainda se mantém aberta. Entra correndo. Mete o pé mesmo! Invade. Toma conta. Te apossa sem pedir licença, seja mal-educado. Vem cafajeste... Perde o medo, que eu te quero assim, quente e cru. Deixa a armadura na soleira da porta, larga as armas. Entra teso e nu.
E amanhã de manhã, cobre outra vez aquela fresta da janela para que eu durma até mais tarde e, assim, com a língua entre os meus lábios – pequenos lábios – talvez, entre um gemido e outro você ainda me escute te dizer num sussurro baixinho “eu te amo”.