domingo, maio 20, 2012

Lilith

Christine von Diepenbroek
Os dedos macios percorrem a parede rugosa e úmida. Algumas ranhuras machucam sua pele, na busca pelo interruptor. Superfície lisa, o encontro da digital humana com a frieza do botão. Luz acesa. Seus olhos fotossensíveis sentem o choque da claridade sobre a pupila dilatada. O toque sutil e passageiro da força da luz provoca a retração. A visão desfocada o faz desconhecer o ambiente por alguns segundos. É necessário tempo para que o corpo se acostume com o que lhe parece desconhecido. Que lugar é esse? Quem são essas pessoas? Na tentativa de reconhecer o lugar, sente o cheiro da lúxúria nos lençóis ainda desarrumados sobre a cama. Os objetos quebrados, jogados no chão desenham os traços da ira. Os pratos e copos sujos sendo revirados pelos ratos e baratas espelham a face da gula e da preguiça. O dinheiro rasgado sobre a poça de sangue traz à tona lembranças da sua avareza desmedida e da dor que ela pode causar. A inveja e o orgulho deturpam seus pensamentos, enegrecem sua alma e o fazem reconhecer tudo. A vida sob a luz dos refletores.Quarto sujo, mundo insano, corpo de pecado...

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