sexta-feira, maio 18, 2012

Queda-livre

Ela jurou que daquela vez seria diferente. Por isso juntou todas aquelas migalhas afetivas acumuladas ao longo dos meses em que passou curando sua ressaca emocional e guardou no armário. Não jogou fora porque ainda sentia-se insegura – talvez precisasse delas novamente.Ela sabia que não era o momento certo; não havia planejado, mas acontecera. Portanto, como de costume, abriu o peito e saltou. Não atirou-se – simplesmente abriu os braços e deixou-se cair, de olhos fechados, sem pensar.
Muitas vezes fizera isso, mas as diversas contusões, arranhões e os dias de recuperação não a ensinaram sentir medo. Sim, ela sabia da existência do medo, mas a vontade de sentir o vento tocando seu rosto novamente, a emoção do salto, não lhe permitiam ter medo da queda. Ela podia ser macia ou não. Mas isso também já não importava.
E jogou-se. Deixou-se cair.
A queda foi rápida, excitante, apaixonada e sempre de olhos fechados. E ela sentiu novamente o vento tocando seu rosto, seus lábios, entrando pelas frestas da sua roupa encostando levemente o seu corpo todo, balançando seus cabelos. Era bom sentir tudo aquilo outra vez.
E caiu.
E machucou-se.
Abriu o armário em busca de suas migalhas afetivas e elas ainda estavam lá, mas já não bastavam para curar sua dor.
Então libertou-as.
Então libertou-se, esvaziou-se.
E soube o que era o medo.

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