Queda-livre
Ela
jurou que daquela vez seria diferente. Por isso juntou todas aquelas migalhas
afetivas acumuladas ao longo dos meses em que passou curando sua ressaca
emocional e guardou no armário. Não jogou fora porque ainda sentia-se insegura
– talvez precisasse delas novamente.Ela
sabia que não era o momento certo; não havia planejado, mas acontecera.
Portanto, como de costume, abriu o peito e saltou. Não atirou-se – simplesmente
abriu os braços e deixou-se cair, de olhos fechados, sem pensar.
Muitas
vezes fizera isso, mas as diversas contusões, arranhões e os dias de
recuperação não a ensinaram sentir medo. Sim, ela sabia da existência do medo,
mas a vontade de sentir o vento tocando seu rosto novamente, a emoção do salto,
não lhe permitiam ter medo da queda. Ela podia ser macia ou não. Mas isso
também já não importava.
E
jogou-se. Deixou-se cair.
A queda
foi rápida, excitante, apaixonada e sempre de olhos fechados. E ela sentiu
novamente o vento tocando seu rosto, seus lábios, entrando pelas frestas da sua
roupa encostando levemente o seu corpo todo, balançando seus cabelos. Era bom
sentir tudo aquilo outra vez.
E caiu.
E
machucou-se.
Abriu o
armário em busca de suas migalhas afetivas e elas ainda estavam lá, mas já não
bastavam para curar sua dor.
Então
libertou-as.
Então
libertou-se, esvaziou-se.
E soube
o que era o medo.
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Obrigada! Passo a régua e fecho a conta por hoje?