sexta-feira, setembro 27, 2013
Quinto elemento
Na semântica daqueles quatro olhos que se fitavam cobertos por cento e cinquenta e nove longos e loiros fios de cabelo; a presença do intruso.
Em meio às quarenta e oito gotas de suor que escorriam por dezenas de curvas e algumas cavidades.
Entre pares de pernas, por duas línguas.
Por vinte dedos - por aquelas duas mãos entrelaçadas, pelos dois milhões e seiscentos mil poros encostados, quase à vácuo.
Por duzentos e doze músculos movimentados frenética e compassadamente...
Pela pressão arterial oscilante - cento e oitenta, por cento e dez mmHg. Pelos outro cento e noventa e sete batimentos cardíacos.
Por um.
Por mim.
Pelo simples prazer da dor renovada.
Pelo que não cabe, pelo que não se mede, pelo que não combina; pelo errado, pelo avesso. Pelo oposto.
Por uma penetração.
Pelo epicentro.
Um quinto olho se fez presente.
___________________________________________Som ambiente: Upside Down
Gorjeta: "Os dois corpos unidos se comunicavam aos sussurros, com pequenas frases de amor. Se acariciavam, se desejavam com cada pedacinho dos sentidos. Depois, quando esfriava a sensualidade, dava pena sentir tanto amor. A sutileza do amor é um luxo. Desfrutá-lo é um excesso impróprio dos estóicos" (Pedro Juan Gutiérrez)
segunda-feira, setembro 23, 2013
Apêndice
Rina H |
“Que morra a fúria do ímpeto
adolescente que permeia os pensamentos do homem? Que morra a força do desejo de
fechar os olhos e seguir apenas tateando, com a desculpa de não ter visto? Que
morra o incontrolável, o inexplicável o indomável ser que lhe espreme os
músculos hioideos – não para que asfixie, mas simplesmente para que reaja?”
Bato os pés – “vamos, abra os olhos”!
Sinto a tontura se apossando do meu corpo, o suor escorrendo pelas têmporas bem
devagar, quase cócegas.
Preceitos me aprisionam em um corpo que não me representa e atitudes que me amortecem.
Acordo; olho em volta.
Tento ver o que toco, ainda com certa vertigem, causa da rápida e leve falta de oxigênio. Tateio o piso, balanço a cabeça, ergo um pouco o corpo e vejo; envolta em lençóis brancos, a carne tesa se movimenta vagarosamente, enquanto admiro atônito, a paisagem quase fotográfica. Por uma das frestas da janela, o raio do primeiro sol da manhã invade a cama e, muito lentamente passa pelos cabelos espalhados pelo travesseiro, pairando sobre o rosto, como se bailasse delicadamente por ela chamando-a para o despertar. Num espreguiçar demorado e convidativo parte do espesso tecido que lhe cobre escorrega revelando um dourado dorso nu e uma fina pelagem que parece se ouriçar com meu olhar. Uma das pernas está levemente dobrada, com partes cobertas e descobertas – cena que parece estar meticulosamente montada para esboçar aquela imagem que me arrasta e me atrai. Vejo-me ajoelhado aos pés da cama, com o pulso acelerado, a boca seca, as pupilas dilatadas e as mãos abertas apoiadas sobre os lençóis, como em posição de ataque. Por mais que a lógica e a coerência me puxem pelos ombros, a força é inútil perante o estado hipnótico que me encontro.
Preceitos me aprisionam em um corpo que não me representa e atitudes que me amortecem.
Acordo; olho em volta.
Tento ver o que toco, ainda com certa vertigem, causa da rápida e leve falta de oxigênio. Tateio o piso, balanço a cabeça, ergo um pouco o corpo e vejo; envolta em lençóis brancos, a carne tesa se movimenta vagarosamente, enquanto admiro atônito, a paisagem quase fotográfica. Por uma das frestas da janela, o raio do primeiro sol da manhã invade a cama e, muito lentamente passa pelos cabelos espalhados pelo travesseiro, pairando sobre o rosto, como se bailasse delicadamente por ela chamando-a para o despertar. Num espreguiçar demorado e convidativo parte do espesso tecido que lhe cobre escorrega revelando um dourado dorso nu e uma fina pelagem que parece se ouriçar com meu olhar. Uma das pernas está levemente dobrada, com partes cobertas e descobertas – cena que parece estar meticulosamente montada para esboçar aquela imagem que me arrasta e me atrai. Vejo-me ajoelhado aos pés da cama, com o pulso acelerado, a boca seca, as pupilas dilatadas e as mãos abertas apoiadas sobre os lençóis, como em posição de ataque. Por mais que a lógica e a coerência me puxem pelos ombros, a força é inútil perante o estado hipnótico que me encontro.
Minha mão percorre quase sem encostar
uma das suas pernas enquanto o tecido que a cobria revela o todo das partes que
formam aquele emaranhado de carne, pelos e ossos que me deleito em
investigar. Inclinando meu corpo sobre ela, cerro os olhos e pairo sobre aquela
pele quente que exala seu cheiro de fêmea, com o leve e sofisticado toque de
“Eau Tendre” que entorpece meus sentidos.
Delicadamente me aproximo mais,
deixando com que a ponta do meu nariz deslize pelo corpo macio, enquanto a
resistência da penugem das suas costas me acaricia.
O leve sorriso no canto da sua boca...
Essa menina safada me convida prá brincar de um jeito que meus livros não explicam. Minha experiência desconhece sua falta de regras e ignora os pré-conceitos - vejo meu medo pequeninho deixado na soleira da porta, ali, solitário, me encarando como que em abandono.
O leve sorriso no canto da sua boca...
Essa menina safada me convida prá brincar de um jeito que meus livros não explicam. Minha experiência desconhece sua falta de regras e ignora os pré-conceitos - vejo meu medo pequeninho deixado na soleira da porta, ali, solitário, me encarando como que em abandono.
Olho para aquele corpo me chamando.
Atordoado, penso.
Olho para trás e vejo meu mundo – eu vejo o que sou e tento me desencaixar daquele cenário, que dubiamente me acomodo de forma tão perfeita. Tento me descolar daqueles poros que me sugam e me prendem a vácuo, em vão. Minha (in)consciência me move sempre e cada vez mais na sua direção.
Pois que morra em mim esse medo do descontrole; que morra em mim o que é velho, àspero, medido e metódico para dar espaço ao menino imprudente e desavergonhado que posso ser nessa mulher!
Olho para trás e vejo meu mundo – eu vejo o que sou e tento me desencaixar daquele cenário, que dubiamente me acomodo de forma tão perfeita. Tento me descolar daqueles poros que me sugam e me prendem a vácuo, em vão. Minha (in)consciência me move sempre e cada vez mais na sua direção.
Pois que morra em mim esse medo do descontrole; que morra em mim o que é velho, àspero, medido e metódico para dar espaço ao menino imprudente e desavergonhado que posso ser nessa mulher!
Quando hesito, vejo as duas esmeraldas
brilharem em meio aos raios de sol, me penetrando como se lessem meus mais
obscuros pensamentos – sem desviar o olhar ela se vira envolvendo suas pernas
com força em torno da minha cintura, levanta bruscamente apoiada em meus
braços, se enrosca absoluta e totalmente no meu corpo e segura meu rosto com
uma mão – sentindo a resistência dos mamilos rijos em meu peito e o calor do
seu colo a me queimar ela pergunta: “O que vc tem a perder?”
Perco a fala, perco a respiração e
perco o pudor me encaixando impiedosamente.
O mergulho é profundo e
definitivamente inócuo para este homem que submerge: que morra em mim o ancião
confrangido e amofinado, apêndice de mim.
Na vitrola: Jethro Tull - Aqualung
Na vitrola: Jethro Tull - Aqualung
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