quinta-feira, agosto 02, 2012

Cama de Gato

Capa do álbum "Suede - Dog Man Star"
Deitada, abro os olhos vagarosamente. Mal consigo enxergar – preciso de alguns segundos para ajustar o foco. Estou nua. Percorro a linha meus seus braços até a extremidade e consigo ver meus pulsos amarrados. As finas meias de nylon brancas que antes contornavam minhas pernas agora são as algemas que me mantêm presa à cama, uma em cada punho, firmemente atadas. Levanto levemente o pescoço, minhas costas doem; olho ao redor: minhas roupas espalhadas pelo tapete; o cinzeiro que ainda sustenta um cigarro aceso; as duas taças de vinho caídas e as três garrafas vazias. Nada faz sentido. Nenhum som, não fosse o roçar do ventilador de teto, que gira vagarosamente, sem produzir quase nenhuma aragem. Sinto o suor escorrendo por entre os meus seios. A luz é pouca – resume-se ao tom alaranjado de pôr-do-sol que entra pela janela entreaberta e aos poucos vai sumindo. Poderia gritar, mas algo não me permite. O medo se confunde com a sensação de fazer parte disso, de ter pedido para estar aqui, dessa forma, tão desprotegida, tão entregue. O barulho das chaves me tira do transe. É quando ele entra. A mistura dos últimos reflexos do sol com os pontos escuros não permitem com que eu veja seu rosto, apenas contornos. Ele se aproxima, passa a mão pelos meus cabelos e, cuidadosamente cobre meus olhos – continuo sem pronunciar uma palavra. Com as pontas dos dedos ele me explora – meus lábios, minha língua. Lambo-os como se não quisesse que saíssem dali. Os dedos úmidos pela saliva descem pelo meu pescoço, mamilos, ventre... E cessam, como se me punissem, como se me atiçassem. Ele sabe me provocar.
Meu corpo se contorce, peço mais. Preciso de mais. Agito os braços, agora sim, na tentativa de soltar as amarras que me impedem de segurá-lo – presa domada (?). Ele segura meus joelhos, percorre minhas coxas e agarra minhas nádegas com força, enquanto a língua desliza por entre as minhas pernas. Não consigo gritar, mas meu corpo responde a todas as perguntas. Amarrada, domada, não posso segurar suas mãos, guiar seus movimentos, tocar ou morder sua pele... Eu me agito ainda mais, enquanto a respiração descompassada acelera meus batimentos cardíacos.
Num instante, um vazio: ele se afasta bruscamente – ainda sentindo ondas de prazer gemo, pedindo mais, até que ele me preenche completamente, mais e cada vez mais. Meus pés tocam seu pescoço, seu rosto: roçam na barba, e enquanto ele os beija, segura meu quadril, controlando meus movimentos, cada vez mais ferozes, mais frequentes, mais profundos, até que ouço seu gemido – forte e alto. É quando ele atira seu corpo sobre o meu. Seu peso me conforta. Ainda dentro de mim, sinto-o por completo – o cheiro, o gosto do suor, o calor da pele... Meus cabelos
 molhados enroscados no seu pescoço só evidenciam o que sempre soubemos – quem está amarrada não seria a predadora?

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Obrigada! Passo a régua e fecho a conta por hoje?