
Então a boa-má-menina voltou a sentar naquela mesma mesa de bar. As oito vodcas lhe desciam pela garganta, como água gelada para um sedento no deserto, ao mesmo tempo que embaralhavam seus pensamentos, embriagavam suas pernas, turvavam sua visão, relaxavam seus músculos... Cada milésima parte do metro de pele, cada poro, cada pêlo.
Boa dose de remédio para algo do qual não acreditamos existir cura ou alívio.
Pois estava ali, perante seus olhos, ao alcance de seus lábios; cristalina, límpida, navegando por entre pedras de gelo. Mesmo assim, carregada de fluídos obscuros e indecentes – forma despudoradamente indecorosa e minuciosa de tirar o torpor e despertar a divindade arrefecida pela invasão perturbadora do nobre, mas inútil sentimento, capaz de derrubar até o mais bruto dos seres.
O suor que escorria pelo circuito externo do cilindro que mantinha preso este insigne líquido, também descia por entre seus dedos, pelas unhas vermelhas da única verdadeira dona daquele corpo, lhe propiciando um bom motivo para roçar e friccionar uma mão contra a outra sem demonstrar a ansiosidade ou nervosismo que a intrusa ainda deixava escapar debilmente. Sofisma inescrupuloso.
Cada gole clamava por ela, por aquela que jamais deveria ter abandonado sua extensão, forma ou pensamentos. A perversa menina estava escondida, perdida por entre os lençóis úmidos da donzela inocente – e ela só conhecia o pecado e a luxúria; estava esquecida em meio às juras de amor grudadas no ouvido da desprotegida moça, enquanto ela só distinguia palavras insolentes, obscenas, mentirosas e lascivas; viu-se enrolada em lingeries de algodão de cores sóbrias, baratas, quando seu corpo gritava pela seda, pelo nylon, pelo vermelho, pelo preto, pela cinta-liga. Embriagada numa esquecida taça de vinho barato deixado ao lado da cama, aprisionada na letargia desse sentimento inverossímil e ficcionista, que entorpece e emburrece.
Mas ainda viva.
Adormecida, mas na espreita – aguardando a fresta, a fenda possível para libertar-se.
O álcool nas veias, a nicotina invadindo os pulmões, a música ininterrupta e descompassada os olhos nos olhos. O verde esmeralda brilhando e fitando como mira a laser, percorrendo todos os cantos, todos os espaços. Fatores que a incitavam sair da modorra, a abandonar as vestes e os pensamentos morais da boa menina que invadiu seu espaço e libertar-se. Libertar a herege perversa e insensível adormecida pelas palavras doces proferidas ao pé do ouvido e pela ilusão de que ser a “boa-moça” lhe traria de volta o doce gosto de combinar lealdade, amor, cumplicidade e verdade com algo parecido com felicidade.
Só mais um gole... Só mais uma tragada – só mais aquela música e a caixa de Pandora estaria completamente aberta.
Tempo esgotado. A fúria com que ela se liberta justifica todo o tempo de clausura.
Sem discernir investe contra a primeira presa indefesa que ousa aproximar-se, na ingenuidade do que estava por suceder.
Só há sangue e pele por entre seus dentes e unhas... no canto da boca. As vestes ao chão, o pudor em companhia das traças.
"Você tem um bom coração... adormeça boa-menina."
_______________________________________Som ambiente (clique e veja): Perfect - Simple Plan
Boa dose de remédio para algo do qual não acreditamos existir cura ou alívio.
Pois estava ali, perante seus olhos, ao alcance de seus lábios; cristalina, límpida, navegando por entre pedras de gelo. Mesmo assim, carregada de fluídos obscuros e indecentes – forma despudoradamente indecorosa e minuciosa de tirar o torpor e despertar a divindade arrefecida pela invasão perturbadora do nobre, mas inútil sentimento, capaz de derrubar até o mais bruto dos seres.
O suor que escorria pelo circuito externo do cilindro que mantinha preso este insigne líquido, também descia por entre seus dedos, pelas unhas vermelhas da única verdadeira dona daquele corpo, lhe propiciando um bom motivo para roçar e friccionar uma mão contra a outra sem demonstrar a ansiosidade ou nervosismo que a intrusa ainda deixava escapar debilmente. Sofisma inescrupuloso.
Cada gole clamava por ela, por aquela que jamais deveria ter abandonado sua extensão, forma ou pensamentos. A perversa menina estava escondida, perdida por entre os lençóis úmidos da donzela inocente – e ela só conhecia o pecado e a luxúria; estava esquecida em meio às juras de amor grudadas no ouvido da desprotegida moça, enquanto ela só distinguia palavras insolentes, obscenas, mentirosas e lascivas; viu-se enrolada em lingeries de algodão de cores sóbrias, baratas, quando seu corpo gritava pela seda, pelo nylon, pelo vermelho, pelo preto, pela cinta-liga. Embriagada numa esquecida taça de vinho barato deixado ao lado da cama, aprisionada na letargia desse sentimento inverossímil e ficcionista, que entorpece e emburrece.
Mas ainda viva.
Adormecida, mas na espreita – aguardando a fresta, a fenda possível para libertar-se.
O álcool nas veias, a nicotina invadindo os pulmões, a música ininterrupta e descompassada os olhos nos olhos. O verde esmeralda brilhando e fitando como mira a laser, percorrendo todos os cantos, todos os espaços. Fatores que a incitavam sair da modorra, a abandonar as vestes e os pensamentos morais da boa menina que invadiu seu espaço e libertar-se. Libertar a herege perversa e insensível adormecida pelas palavras doces proferidas ao pé do ouvido e pela ilusão de que ser a “boa-moça” lhe traria de volta o doce gosto de combinar lealdade, amor, cumplicidade e verdade com algo parecido com felicidade.
Só mais um gole... Só mais uma tragada – só mais aquela música e a caixa de Pandora estaria completamente aberta.
Tempo esgotado. A fúria com que ela se liberta justifica todo o tempo de clausura.
Sem discernir investe contra a primeira presa indefesa que ousa aproximar-se, na ingenuidade do que estava por suceder.
Só há sangue e pele por entre seus dentes e unhas... no canto da boca. As vestes ao chão, o pudor em companhia das traças.
"Você tem um bom coração... adormeça boa-menina."
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Gorjeta: "Eu não quero que você me busque num super potente carro, eu só quero que quando você me beije, eu não deseje mais nenhuma força do universo. Estou pouco me lixando se o restaurante tem várias cifras no guia da Folha, mas gostaria muito que a gente esquecesse das mesas ao lado e risse a noite toda, eu até brindaria com água sem bolhinhas. Sério que tem uma pousada mega-master com ofurô em cima da montanha e charretes cor-de-rosa que trazem o café da manhã? Dane-se, se você conseguir passar, nem que seja algumas horas, encantado pela gente, essa será a maior riqueza que eu posso ganhar." (trecho do texto de Tati Bernardi - http://tatibernardi.com.br/artigos.php?y=2006)
You will survive, my little blond!
ResponderExcluirBeijos.
Sempre.
não sei se compreendo as tuas razões. talvez me falte um pouco mais de inteligência...
ResponderExcluirmas sei que gosto do que leio.
não pare.
grande beijo
Mr. Anonym
ResponderExcluirI will survive.
Always.
Thank you for the visit!
;-)
Jaques,
ResponderExcluirHummm... não é falta de inteligência, com certeza.
Tu só precisa abstrair.
Ler tentanto compreender e achar sentido não faz nenhum sentido - abstrair o autor talvez te leve à compreensão.
Mesmo assim obrigada por "gostar do que lê".
Não vou parar. Não mais.
Beijos
É mais ou menos como encontrar formas concretas em nuvens. Eu gosto Fabi....
ResponderExcluirque bom te-la de volta
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