domingo, setembro 02, 2012

Fotografia

By: Terry Grant
Uma gota de vinho pinga no seu colo: o suficiente para atiçar seus sentidos. O pingo escorre por entre os poros, transborda no tecido da camisa cor de rosa antigo.
A música a envolve - ela levanta-se suavemente da poltrona, arranhando delicadamente as unhas pelo veludo, como se tentasse penetrá-lo - como se fosse pele.
Olhar fixo; o leve fechar das pálpebras, mesmo com as pupilas estáticas parece me convidar. As mãos que se apoiavam vigorosamente saltam dos braços aveludados da poltrona e deslizam por entre suas coxas quentes, sobem pelo ventre, sentindo a breve resistência da penugem macia. Ela segura o cálice de vinho com uma mão enquanto a outra continua percorrendo o caminho do seu corpo – me olha pela transparência do copo, me sinto invadido. Fita-me fixamente, indiscretamente, descaradamente como se eu pudesse senti-la se umidificando, como se eu pudesse sentir, daquela distância, seu odor de fêmea do cio.
A borda do cálice encosta no pescoço e enquanto ela se estica como uma gata mirando minha reação com os cantos dos olhos ela entorna-o. Vagarosamente sua roupa se cobre de vermelho, deixando seus seios rijos, como se quisessem transpor a fina camada do linho.
As pernas curtas e bem torneadas exploram a lateral da poltrona, onde ela apoia um dos seus pés - sedoso e perfeitamente branco. À meia-luz - com a luz ideal percebo todos os seus pequenos detalhes... O vinho segue escorregando pela alva pele enquanto as mãos vão acompanhando esse caminho e espalhando a concupiscência pelo seu corpo, que vejo arder. A boca entre aberta mostra os dentes de mesmo escarlate das unhas e dos pés, e liberta o ar, a respiração ofegante e um breve sussurro. Matizes verdes saltam dos olhos úmidos enquanto as narinas movem-se em descompasso.
Poros contraídos, pupilas dilatadas, lábios molhados, pelos ouriçados e, embalada pelo som que ecoa das caixas acústicas vejo aquele corpo se movendo sensual e vagarosamente. Seus quadris a dançar suavemente me hipnotizam. As falanges movem-se, impelidas pelo próprio peso, com leveza, pela superfície lisa e desnuda, como se a tocassem pela primeira vez. Desvendam toda malícia escondida pela falsa inocência.
A mão no botão, a calça no chão - o sexo desnudo.
O cálice na horizontal, a blusa verticalmente arrancada, a pele esticada pelos braços ao alto e os seios enrijecidos pelo toque do frio e rubro vinho.
Todos os espaços do seu corpo invadidos, todos os fluídos corpóreos em ebulição.
A lente da câmera, o êxtase, a fotografia.

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Obrigada! Passo a régua e fecho a conta por hoje?